04/04/2022
WEB3
“O real problema da humanidade é o seguinte: nós temos emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia divina”
– E.O. Wilson
A internet que conhecemos passou por duas grandes fases. Na primeira, funcionava sobretudo como um conjunto de bibliotecas e catálogos, onde a maioria dos usuários apenas consumia conteúdo. O surgimento das plataformas marcou a segunda geração, trazendo interatividade para os sites. Através das plataformas, os usuários podem facilmente publicar conteúdo e interagir uns com os outros. Isso permitiu a ascensão de grandes mercados online: redes sociais, e-commerces de terceiros, aluguel de propriedades, dentre outros.
Uma característica marcante desses mercados são os efeitos de rede. Quanto mais vendedores em um e-commerce, mais útil ele se torna para os compradores; quanto mais compradores, mais oportunidades para os vendedores. O ciclo se retroalimenta numa dinâmica que leva a poucos, grandes vencedores. Uma vez que uma plataforma se estabelece como o padrão daquele mercado, dificilmente um concorrente consegue substituí-la oferecendo a mesma utilidade.
As plataformas criaram serviços incríveis, muitas vezes gratuitos. Como usuário, é difícil criticar empresas como Google ou Amazon. Uma sutileza está no fato de que se tornaram ecossistemas fechados. A consequência é que a inovação nesses mercados ficou majoritariamente restrita à iniciativa própria das companhias dominantes. Será que continuará assim para frente?
Hoje, uma nova geração de plataformas surge para desafiar a estrutura atual da internet. Com base na tecnologia de blockchain, empreendedores ao redor do mundo estão criando padrões de plataformas abertas. A ideia é compartilhar efeitos de rede para que novos serviços e produtos possam ser criados em cima de redes públicas, construídas em conjunto. O grande diferencial é que essas redes são soberanas: ninguém controla elas, de forma que as regras estabelecidas para cada novo programa se tornam compromissos firmes para o futuro. Só é possível alterar as regras de um mercado se a maioria dos participantes daquele mercado concordarem.
Essas inovações deram origem ao conceito da Web3, uma internet mais aberta e interoperável. Na prática, significa uma série de novas possibilidades. Alguns exemplos:
Dinheiro da internet. Pela primeira vez, temos redes nativamente globais de pagamentos. Não é mais necessário um banco para guardar recursos ou um cartão para intermediar transações, e o conceito de fronteira geográfica cai por terra para transações nessas redes. Através de aplicativos de wallets, todos podem ter contas gratuitas e transferir recursos diretamente para outras contas sem nenhuma empresa intermediando. Empreendedores, por sua vez, podem se conectar livremente à rede para receber e enviar pagamentos para qualquer indivíduo ou empresa no mundo, instantaneamente.
Propriedades digitais. De forma análoga, é possível registrar títulos de propriedade nessas redes, que agem como um cartório aberto na internet. Posses e contribuições digitais deixam de ser registros numa plataforma específica e passam a ser registros abertos na internet, de forma segura e confiável. Os usuários e empreendedores têm liberdade para criar registros nesses cartórios e dar sentido a eles. O importante é que, uma vez criados, podem ser integrados por quaisquer serviços que desejarem, se tornando interoperáveis. Num polêmico exemplo de NFTs, a propriedade de uma obra de arte digital pode ser comprovada em diferentes redes sociais, agindo socialmente como uma espécie de “Rolex digital”.
Empresas digitais. A combinação de registros públicos e programação nas redes permite a criação de contratos sociais digitais. Usuários podem fazer seus próprios “IPOs”, registrando títulos equivalentes a ações de uma empresa, distribuindo estes títulos para sócios, e estabelecendo regras de governança. Programas de computador podem atrelar receitas à conta dessa empresa, automatizar a folha de pagamentos, e ainda escalar decisões estratégicas para voto em assembléia. Tudo isso sem os conceitos de contratos legais ou fronteiras geográficas. No blockchain, “código é lei” – o que pode gerar uma série de eficiências (e problemas) ainda não experimentados pela sociedade.
Tudo isso é empolgante, mas algumas barreiras ainda comprometem o progresso dessa tecnologia para o público geral. Notavelmente, as experiências ainda são complicadas e problemáticas, as principais redes ainda não suportam muitas transações simultâneas e as leis ainda não estão definidas para o setor. A evolução desses pontos será fundamental para que a visão da Web3 se concretize.
Enquanto gestores de recursos, acreditamos que, atualmente, nossos investimentos têm boa capacidade de adaptação para as novidades que estão sendo propostas, mas a evolução da indústria pode surpreender. Os próximos anos prometem ser intelectualmente fascinantes.
Para aqueles que quiserem acompanhar nossa jornada nesse tema, escrevemos um relatório completo sobre nossos aprendizados e opiniões até então. Ele aprofunda e expande as possibilidades aqui citadas.
https://ip-capitalpartners.com/reports/web-3/
Boa leitura!