19/04/2023

Entenda como a renda variável permanece atraente em um ambiente de juros altos

Em um bate papo exclusivo com assessores de investimento, nosso sócio e cogestor Pedro Andrade explica, no mais recente episódio da série Papo com Gestor no YouTube, o comportamento dos fatores que afetam diretamente o preço das ações, assim como a reação dos investidores.

 

Entendendo o Mercado Atual: O Impacto da Pandemia, dos Governos e da Inflação nas Ações

Se você é um investidor, provavelmente já viu essa equação para calcular o preço das ações, que é determinado pelos lucros futuros da empresa dividido pela taxa de desconto, que por sua vez é composta pela taxa livre de risco (juros) e pelo risco assumido. Neste texto vamos explorar como cada um desses componentes afetaram recentemente o valor das ações.

 

A pandemia e o mercado de ações

A pandemia do COVID-19 foi um dos principais eventos que afetaram o mercado de ações em todo o mundo. Quando a economia foi fechada em março de 2020, o preço das ações foi fortemente afetado. Isso ocorreu porque os lucros futuros projetados diminuíram e a percepção de risco aumentou consideravelmente. Como resultado, o preço das ações caiu significativamente.

Com a economia fechada e um alto grau de incerteza por parte dos agentes econômicos, os governos precisaram agir rapidamente para evitar uma crise ainda maior.

 

A reação dos governos e o mercado de ações

Os governos adotaram medidas para tentar minimizar os impactos econômicos da pandemia. Eles reduziram rapidamente as taxas de juros e concederam estímulos fiscais às empresas, o que aumentou a projeção de lucros futuros e, com o tempo, diminuiu a percepção de risco. Como resultado, o preço das ações subiu novamente, recuperando os preços pré-covid.

No entanto, a psicologia do investidor desempenha um papel importante. Quando as ações estavam em baixa, muitos investidores se desfizeram de suas posições, mas quando elas começaram a subir rapidamente, o investidor médio pensou: “Veja o quanto posso ganhar com ações!”.

Começaram a surgir os mantras como “volatilidade é vida” e “o fim do CDI”.

 

Inflação e o mercado de ações

Com a reabertura da economia, altamente estimulada por juros baixos e incentivos fiscais, a inflação começou a aparecer. Para combatê-la, os bancos centrais começaram a aumentar as taxas de juros e isso afetou negativamente as empresas que se beneficiavam do cenário de juros baixos, diminuindo a projeção de lucros futuros e aumentando a percepção de risco. A alta na taxa de juros representa também uma maior taxa de desconto. Como resultado, o preço das ações caiu.

 

O ponto atual do mercado de ações

Desde o início de 2020 até agora, o IBOV caiu 14%. O índice Valor, que considera a carteira do IBOV após a 11ª ação do índice, num total de 50 empresas, diminuindo assim o efeito das commodities e refletindo mais a economia interna, se encontra próximo ao ponto mais baixo registrado durante a crise do Covid. Isso sugere que os preços atuais estão bastante deprimidos.

Analisando cada um dos fatores que impactam a equação do cálculo do preço justo das ações no mercado atual, temos: 

 

Lucro futuro projetado: queda

Atualmente, o lucro projetado para os próximos 12 meses do índice Valor está em queda, com uma expectativa de -12% de lucro esperado desde a última eleição, o que impacta negativamente o valor das ações.

Risco: percepção alta

A percepção de risco por parte dos investidores também pode influenciar o valor das ações. Quando o risco é alto, os investidores tendem a exigir uma taxa de desconto maior, o que pode levar a uma queda no valor das ações.

Atualmente, a falta de bom senso do governo em relação à questão fiscal tem desencadeado uma série de eventos que pioram o cenário, levando a uma percepção de risco alta por parte dos investidores.

Juros: altos

Hoje o yield da NTN-B para 10 anos remunera o investidor próximo a 6% (acima da inflação medida pelo IPCA). Para entender o quanto somos remunerados por ter ações nesse momento, analisamos o earnings yield do índice Valor, que se aproximou a 12%.

Ou seja, toda a atratividade atual da renda fixa já está embutida no preço das ações, o que causou uma compressão no preço das ações, levando a uma sensação de que o preço não sobe enquanto os juros não pararem de subir.

O retorno esperado por ter ações atualmente é o dobro do yield da NTN-B para 10 anos.

Portanto, apesar dos desafios, o ponto de partida atual é muito bom. Vender ações nesse momento pode significar abandonar um ativo no seu ponto de retorno esperado mais alto dos últimos anos, embora não haja garantia de que as ações subirão no curto prazo.

A melhor forma de passar por esse período incerto não é vender sua renda fixa e investir tudo em ações, mas, de forma cautelosa e paciente, aumentar o percentual referente à renda variável na sua alocação de ativos com aportes regulares. 

Por fim, deixamos um estudo do que aconteceu com o fundo IP Participações quando ele teve período de 5 anos com performance abaixo do CDI.

 

Assista o bate-papo na íntegra